Direção: Fraser C. Heston. Roteiro: W.D. Richter. Com: Max von Sydow, Ed Harris, Bonnie Beddelia, Amanda Plummer, J.T. Walsh, Ray McKinnon, Duncan Fraser, Shane Meier.
Stephen King é prodigioso em criar enredos e personagens interessantes. Acredito que chama-lo de "mestre do terror" seja limita-lo a autor de apenas um gênero (embora ele escreva histórias assustadoras com certa maestria). "Trocas Macabras" - pelo menos a banda filmada, já que infelizmente não li sua contraparte literária - trafega muito bem entre o suspense, a ação e ainda tem pitadas oportunas de humor. Na trama, o grande Max von Sydow interpreta Leland Gaunt, um simpático senhor que se muda para a pequena Castle Rock. Lá, ele abre uma loja chamada Needful Things (algo como "objetos de desejo"). O nome da loja se justifica, pois lá, o cliente encontra exatamente aquilo com que sonha.
Ninguém sai daquele local sem levar seu tão aquilo que quer. Leland é tão simpático quanto flexível nos negócios. Porém, sempre há algo que ele cobra em suas barganhas: a freguesia precisa pregar uma peça em alguém. A primeira vítima das negociatas ardilosas é o jovem Brian Rusk (Shane Meier), que após conseguir um valioso card de baseball, dando 90 centavos como parte do pagamento, é instruído a sujar os lençóis no varal de uma fazendeira nada amigável. A mulher, cascuda, atribui o trabalho a um desafeto (a doidinha Nettie, vivida por Amanda Plummer).
As, peraltices, aparentemente inocentes, vão sucedendo na medida em que os habitantes do vilarejo frequentam a loja e se tornam amigos de seu estranho proprietário. O soturno comerciante desenvolve um interesse particular por Polly Chalmers, dona do restaurante local e noiva do Xerife Alan Pangborn. O casal personifica o ideal de honra, sendo ambos justos, honestos, enfim, imbuídos de inúmeras qualidades... E ideais para serem corrompidos pelo tinhoso. Afinal, qual a diversão em estragar uma maçã podre, não é? Porém, o experiente oficial (egresso da cidade grande) tem o faro apurado para pessoas (?) de má índole e parte para o tudo ou nada contra o inimigo.
Na medida em que vão se intensificando, as brincadeiras tornam-se perigosas: os bate-bocas e provocações se transformam em agressão física e assassinato. Wilma, a fazendeira dos lençóis sujos, se engalfinha com Nettie, em uma das melhores sequências do filme, enquanto o chifrudo (que aqui aparece escorneado) ri de toda a situação ouvindo Ave-Maria. As almas mais suscetíveis são facilmente cooptadas pelo diabo, como é o caso de um vereador pra lá de desonesto, que vira seu servo sem resistência. Danforth Keeton III é um político à moda brasileira: rouba, pratica todo tipo de atos ilícitos, é viciado em corridas de cavalos e ainda compra briga com um guarda por tê-lo multado. J.T. Walsh - que tor subestimado - encarna o personagem com tanta fúria que chega a impressionar!
O elenco, aliás, é todo empenhado. Amanda Plummer já tem uma carinha que ajuda, mas entrega o nível exato, digamos, de deficiência mental. Ed Harris e Bonnie Beddelia também acertam na altivez dos personagem. Mas o veterano Max von Sydow, ah, esse parece até se divertir encarnando o Pé Preto! E notem a simplicidade e a eficiência com que ele muda suas feições. Nada de maquiagem pesada, apenas um pequeno detalhe revela sua verdadeira personalidade...
Meio esquecido e um tanto subestimado, "Trocas Macabras" é uma ótima transposição da obra de Stephen King. Fraser C. Heston exibe uma direção bastante segura, inclusive em certa sequência, que mescla humor e tesão, sem destoar da atmosfera sombria que permeia o longa. E a excelente trilha fornece o tom. Se não chega ao patamar de "O Iluminado" ou "Carrie, A Estranha", essa pequena gema surge com toda dignidade em meio ao pântano de filmes fedorentos baseados no autor.
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