No decorrer da presente década, muita coisa vem mudando em nossa sociedade - para o bem e para o mal. É claro que, na seara cultural, a coisa não seria diferente. Muito se fala em inclusão, ou como preferem alardear, representatividade. A campanha Oscar so White já havia protestado contra a ausência de profissionais negros nas indicações à estatueta dourada. Em 2017, "Moonlight", que fala sobre a vida nada fácil de um negro pobre e gay, foi o grande vencedor na categoria Melhor Filme. Uma obra perfeita para a ocasião.
Em 2018, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas levará, das mais variadas formas, as minorias à cerimônia. Um dos candidatos ao prêmio principal é uma singela produção de Jason Blum, o produtor que vem faturando alto com filmes de terror de baixo orçamento. "Corra!" ("Get Out!") chegou aos cinemas precedido de um hype monstruoso. Na história, Daniel Kaluuya é Chris, que amora gatinha Rose (Allisson Williams). Ele, negro, vai encarar a família da garota. E ela assegura que não há o menor perigo de ele ser vítima de racismo. Preconceito é o cerne do filme, escrito e dirigido por Jordan Peele.
Nada soa gratuito, panfletário. O comentário social é entrecortado por um incômodo crescente, algo ali deixa o espectador com muitas pulgas atrás da orelha. A calmari forçada escancara a eminência de acontecimentos assustadores. O que há por trás dos jardins bem cuidados e daquela sorridente e simpática família? (pausa para pontuar: branca e rica)
A crítica, e os justiceiros sociais de plantão, caíram de amores instantaneamente. "Corra!" vem sendo considerado uma verdadeira obra de arte. Chega a tanto? Por mais que a construção de clima seja eficiente em prender a atenção, que tudo, inclusive as inserções cômicas das quais tantos reclamam, funcione a contento, o filme é ótimo. Ponto. Eleva-lo ao status de reinvenção do gênero é um desserviço, inclusive no que diz respeito a obras bem melhores e que passaram em brancas nuvens pelo Oscar ("A Bruxa", para citar um caso bem recente). Sem citar a presença de Daniel Kaluuya na categoria Melhor Ator. Sério?
Não deixa de ser gratificante ver um filme de gênero disputando a mais famosa premiação da Sétima Arte. Por outro lado, se o politicamente correto for um critério preponderante na escolha dos candidatos, o Cinema pode dar adeus à qualidade.
Indicações:
Melhor Filme
Melhor Diretor: Jordan Peele
Melhor Roteiro Original: Jordan Peele
Melhor Ator: Daniel Kaluuya
Trailer:
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