As Três Mães Parte II: A Mansão do Inferno (Inferno, ITA, 1980)

Postado por José Cláudio Carvalho

Direção: Dario Argento. Roteiro: Dario Argento. Com: Leigh McCloskey, Irene Miracle, Eleonora Giorgi, Daria Nicolodi, Sacha Pitoëff, Alida Valli, Veronica Lazar, Gabriele Lavia, Feodor Chaliapin Jr., Leopoldo Mastelloni, Ania Pieroni. Duração: 1h 47min.


Adivinha quem e?

Vasculhando os comentários sobre Suspiria no Filmow, me deparei com a seguinte colocação: "Esteticamente impecável, se não fosse a trilha sonora irritante e um roteiro mais caprichado, o filme seria melhor." Imediatamente, lembrei do famoso bordão: "sabe nada, inocente!". Brincadeiras à parte, não há como julgar alguém não familiarizado  com o universo onírico de Dario Argento. Se na primeira parte da Trilogia das Mães, o delírio visual se sobrepunha à história, aqui a coisa degringola de vez. O roteiro é um mero pretexto para que o mestre desse ao mundo uma overdose de mal estar. No longa anterior, Argento introduz o tema "bruxaria", sem se alongar sobre as entidades malignas. Mas em Mansão do Inferno (título nacional bastante equivocado, pois a trama envolve um edifício localizado em Nova York), o assunto vem à tona em sua plenitude.



"Não sei que preço vou pagar por romper o que os alquimistas chamam de silentium. A experiência dos nossos colegas nos adverte sobre não compartilhar nosso conhecimento aos leigos."

Essas são as palavras do alquimista e arquiteto londrino Varelli, que construiu três habitações em lugares distintos do globo. Em Friburgo (Alemanha), na Tanz Akademie, vivia a mais velha, Mãe dos Suspiros (Madre Suspiriorum); Nova York foi escolhida como a morada da Mãe das Trevas (Madre Tenebrarum); a mais bela e cruel, Mãe das Lágrimas (Madre Lacrimarum) vive em Londres. Elas foram as primeiras e mais poderosas bruxas que habitaram a Terra, e de suas casas, a governariam. Em posse de uma edição do livro escrito por Varelli, Rose Elliot (Irene Miracle) desconfia que o prédio onde reside é uma das três habitações citadas pelo construtor. Ela escreve uma carta ao irmão, que vive em Roma, a fim de compartilhar o temor de sua suspeita.

Um rosto maligno de concreto.


Naquilo que podemos chamar de "manobra Psicose", Argento nos trapaceia a todo momento, fazendo crer que uma determinada personagem será a peça-chave na condução da trama, mas a descarta. E ele repete esse recurso até estabelecer quem, de fato, chegará ao final. Há longas e labirínticas sequências por sótãos e porões, que inevitavelmente desembocam em violentos assassinatos. A intenção é muito clara, de chocar o espectador, e isso fica evidente logo no início, quando Rose derruba suas chaves em um buraco inundado - localizado, veja só, em um porão imundo. As tentativas de recupera-la são desastradas, ao ponto em que ela é obrigada a mergulhar no que se revela um apartamento cheio d'água. Isso resulta em uma situação nauseabunda e angustiante. Em outra parte do filme, um sujeito atolado no esgoto  é devorado por ratos. O que acontece chega a ser insólito, mas indica que o Mal ali é onipotente (do jeito que foi filmado, até o prédio parece ter vida).

Um mergulho...

No mais puro horror!


A iluminação, em que predominam um cromatismo de azul e vermelho (fortíssimos), é sufocante, dá uma sensação de delírio e pesadelo. Dario Argento novamente contou com a produção de seu pai Salvatore e do irmão Claudio, além de uma ajudinha do grande Mario Bava, que dirigiu a sequência dos ratos e colaborou no restante das filmagens, pois Argento adoeceu e teve que deixar temporariamente o trabalho. Na trilha sonora, o habitual colaborador Claudio Simonetti e sua banda Goblin deram lugar a Keith Emerson (do Emerson, Lake & Palmer) O músico não deixou a desejar e entregou um tema simplesmente sensacional! Dessa vez, o cineasta contou com um grande estúdio, a 20th Century Fox, na distribuição do longa. Mas a major não se mostrou exatamente satisfeita com a assinatura de Argento. Seu trabalho é autoral, tem uma forte e inconfundível personalidade. Belíssimo aos olhos de quem sabe compreendê-lo.

CONTINUA...


Sangue e ratos.



Trailer:


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